A poesia está nas ruas
Nos nomes entrelaçados nas árvores
Nos braços dados que caminham
Na bolha de sabão
Que desaparece na palma da mão...
No silêncio do olhar amante
Nas páginas dos diários
- registro de uma vida.
Nas folhas levadas pela brisa
Nas pétalas do mal-me-quer
No aconchego dos teus abraços
No calor do sorriso
No caminho da lágrima no rosto
Na flor que cresce no muro
Entre passos apressados
Nos espaços entre as linhas...
Nos fatos
Nos sonhos
Nos tombos...
Mas o poema sou eu que faço
Na pequenez do meu quarto,
Na imensidão do meu mundo.
E. C.
Ando por aí.
Quem sabe você se abala
Como este rastro de bala que rasga meu peito.
Não volto.
Divago pelas ruas
procurando marcas tuas...
Ainda te esqueço.
Trilho meu caminho
E entre passos apressados
Parto.
E. C.
No rosto despido de máscara
Marcas
Defeitos
Beleza real
do imperfeito.
Brilho de olhar nublado
Que, às vezes, chove
e dissolve as impurezas.
Boca que espera
O calor sincero
de outros beijos.
Coração
Buscando outra batida.
Solidão
que também faz companhia.
E. C.
Uma lágrima
Não cala um sorriso
Sintoma de água
Que brota entre pedras
para gravar seu caminho.
Irrigar a flor que desabrocha
no meio da rocha.
Gravar na memória
O instante do sonho
de ser parte.
Mas quando a gota salgada
que rola no rosto
mistura-se às letras do papel
Desperta o gosto
Reparte o sabor
dessa história que começa pelo fim.
E. C.
Vende-se um coração...
Sofrido, mas inteiro.
Devolvido pelo correio
Pelo único dono verdadeiro.
Resistente de ilusões
Com alguns poucos arranhões
Com espaço para milhões
Batendo forte dentro do peito.
Usado, mas garantido.
Verdadeiro, profundo e amoroso.
Sem malícia, maldade ou engodo.
Buscando outro
Com a mesma batida
Para parar de vez.
E. C.
Descobri tarde demais...
Que as coisas são passageiras.
Que os amigos são lembranças.
Que os machucados deixam marcas.
Que os sonhos nunca acabam.
Que a tristeza faz morada.
Que um olhar diz tudo
Quando a boca cala.
Descobri tarde demais...
Que eu sou memória
Dos instantes que vivi,
Das lágrimas que derramei,
Das pessoas que eu amei,
E de muito que não sei.
Descobri tarde demais...
Que as flores murcham sempre que possuídas.
Que os pássaros cantam mais bonito fora da gaiola.
Que as pedras só enfeitam o nosso caminho.
Que todo fim é um começo.
Descobri e isso já é tudo.
Porque sempre há tempo para recomeçar...
E. C.
Tudo que há em mim
São raspas de sentimentos
Lascas de pensamentos
Sobras de amores perdidos
Versos quebrados
Desenhos incompletos
Desertos...
Pedaços do mundo
Portas fechadas
Caminhos dispersos
Pedras lançadas
Mágoas...
Chuvas passageiras
Neblina
Silêncio cheio de gritos...
Eco de nome esquecido.
Rascunho de rosto envelhecido.
E. C.
Quanto se perde em achar?
Quantos sonham em realizar?
Quantas moedas no fundo da fonte?
E. C.
Belo belo belo.
Se nem tenho tudo que quero
E tudo que tenho é desperdício.
Não tenho amores-perfeitos
Eles só crescem no jardim do vizinho.
Chega o dia, amanheceu
E a noite não me abandona
Tudo breu.
Se o vulcão extinto
A lava jorra.
No meu peito, a mesma
Artéria aorta um tanto torta.
O combate é diário.
O amor é utopia.
E as coisas simples?
Essas são retratos de outrora.
E. C.